Após Aljubarrota
Havia que conquistar o Reino, assim o diz Fernão Lopes no capítulo LX, da sua crónica, a página 159 e seguintes, que tem por título: Quoais Luguares ElRei ouve loguo dos que tinham voz por Castela… Na região Transmontana Bragamça, Vinhaaes, Chaves, Momnforte de Rio Livre, Momtallegre, o Mogadoiro, Miramdella, Alfamdega, Lamas dOrelham, Villa Reall de Panoyas. Cinquenta e quatro lugares em todo o reino que tinham dado voz por Castela (E posto que os rricos e poderosos, assi alcaides de castellos, come outros fidalgos tevessem voz por ElRei de Castella, os poboos porem todos em seus coraçõos eram contra elle e comtra a Rainha,).
Pelos dados deixados por Fernão Lopes podemos refazer o que foi a trajecto do exército real e de Nuno Álvares Pereira naquilo que podemos chamar “Campanha do Norte (Leiria/Coimbra/Guimarães/Porto/Chaves/Bragança/Almeida).
Estando em Santarém, despois que teve postos em segurança os luguares da Estremadura que damte tinhaõ voz por Castela, dadas as cidades de Lisboa, Torres Vedras e Obidos – Ordenou de partir daquela Vila por comprir sua Romaria que prometera amte que entrasse a Batalha. – Tinha prometido ir a pé a Samta Maria dOliveira, que he na vila de Guimarães.
Chegando a Leiria perdoou aos portugueses que contra ele tiveraõ voz e apoderou-se do Castelo que era desamparado dos castelãos.
Nota (15)
Alves, Francisco Manuel (Abade de Baçal), Memórias Arqueológicas -Históricas do Distrito de Bragança, Tomo I, Câmara Municipal de Bragança, 2000, pág. 304, citando documento da chancelaria de D. João I fl, 114, Místicos, livro 4, fl 57 v.
Partio de Leiria e chegou a Coimbra onde foi recebido honrradamente e dali foi para o Porto onde lhe foy feita tanta honra em sua chegada quanta se bem pode fazer, continuando o caminho cheegou a Guimarães, recebido por clérigos e frades e toda a gente, feita a sua oração e oferta deu muitas esmolas e tornou-se ao Porto.
No Porto sobe de novas certas, como Nuno Álvares, seu Comdestabre fizera per Castela – matara o Mestre de Samtiaguo na batalha que cô ele houvera. Mamdoulhe o Comde pedir por merçe que lhe perdoase, porque asy entrara sem sua licença.
16 de Janeiro 1386, assenta arraial em Chaves, donde pede auxilio do Condestável. . a sua duração foi longa, terminará em 30 de Abril 1386
El Rey mandou chamar o Comdestabre….Ho Comdestabre como vio o recado mandou loguo chamar suas gemtes e partio dAmtre Tejo e Odiana e foise ao Porto day o Comde partiu para Chaves e tomou caminho de Braguança; e em huma aldeã que chamão Castellaõs leixou suas gemtes e bandeira sob Governança e capitania de Martim Gonçalves do Carvalhal, seu tio, e elle foy afforado a Chaves não mais cô oitemta lanças.
Nesse dia 30 de Abril, El Rey foy a vila e emtrou no castelo e ouvio missa e armou três cavaleiros da Ordem do Esprital e fez Eguas Coelho seu mestre-sala, e deu a vila ao Condestadre. Diziaõ alguns que esto lhe dava Ell Rey por gualardão da batalha de Valverde que pouquo avia que vemçera.
O Conde poos recado no lugar, deixado por alcaide Vasquo Machado, hum bom escudeiro, e partiose daly pêra suas gemtes que leixara em terra de Bragança (Castelãos). Portanto o Condestável devia ter retornado a Castelãos no dia 3 de Maio de 1386
Ho comde naquela comarqua (Bragança/Castelãos) mamdou seu recado a Joam Afonso Pimemtell, que tinha Barguamça por ell rey de Castela, que falassem ambos a salva fe. (João Afonso Pimentel, casado com Joana Teles, irmã de Ldeonor e Tia de Beatriz). E pasamdo o Comde per qçerquaa da vila veo lhe falar, João Afonso a hum lugar que ambos divisaram. Não se entenderam apesar das promessas do conde se lhe entregasse a praça.
O Conde partiu daly e foy em romaria a Santa Maria do Azinhoso que lhe havia devoção.
O capítulo LXIX relata-nos um facto pouco falado pela nossa historiografia mas por certo a merecer grande atenção:
COMO HO COMDE LÃCOU FFORA DE SUA OSTE TODALAS MOLHERES QUE OS SEUS TRAZIAM
E estando assim em terras de Bragança (Castelãos) mandou poer em obra huma cousa que muito havia que tinha em vomtade de fazer, vemdo que o contrairo era periguoso pêra homeis que em guerra avião de continuar, a qual foy esta: que porquoanto os de sua campanha tragião todos mançebas, também os [que erão] casados como os que naõ ho heraõ, Ordenou que nenhu deshy em diamte não trouxese mamçeba nem mulher comsygo, e se alguma fose mais achada no arraial que fose loguo açoutado pubricamente por elle.(Fernão Lopes)
E estando assim em terras de Bragança (Castelãos, Macedo de Cavaleiros) ordenou aos seus homens uma coisa que há muito tinha vontade de fazer, vendo que o contrário era perigoso para os homens que em guerra haviam de continuar e que foi o seguinte: Porque os seus homens traziam todos mançebas (meninas), tanto os casados como os solteiros. Ordenou que nenhum dos seus homens dali em diante trouxesse mançeba ou mulher consigo, e se alguém fosse apanhado com companhia feminina no arraial seria logo açoitado publicamente por ele (Nuno Álvares Pereira).
Deste mandato desprougue muito a todolos que as trazião que naõ <<no>> ouve hy tal que ho sofrer cõ paçiemçia, mas cada hum falamdo sobre esto ao Comde mostrava tamtas e tais razões porque lhe era neçessario trazela, que bem semelhava aos que presemtes herão nenhuma ser deitada fora da companhia. Ho Comde como hera comprido de mamssa e bem-aventurada razão cortezmente respomdia a todos com muitas e boas palavras; Mas porque a fim de todas, hera não querer que hy mais andassem não os podia apaçifficar.
Esta ordem desagradou muito a todos os seus homens que tinham companhia feminina que ouviram em silencia e a sofrer com paciência, mas cada um foi falar ao Conde que mostrava tantas e tais razões porque lhe era necessário fazê-lo, que bem confrontava os presentes, mas que não as queriam que abandonassem o arraial. O Conde homem de cumprir palavra e pela bem-aventurada razão, respondia a todos com muitas e boas palavras. Mas a finalidade era que as mulheres abandonassem o arraial, não os podia pacificar.
E huns dizião que amtes saberyaõ perder sua merçe.
Uns diziam que tinham perdido a sua (Nuno Álvares Pereira) merçe.
Outros se desnaturavão delle (Comde) e que nunca mais o serviam
Outros desligavam-se dele (Nuno Álvares Pereira) e que nunca mais o serviriam.
Outros davão com as armas em terra, dizemdo palavras e mostramdo geitos que seria lomgo de contar e escrever.
Outros atiraram com as armas ao chão, dizendo palavra e mostrando jeitos que seriam longos de contar e escrever
Em tanto que o Comde dizia depois per vezes que amte quizera esperar hua batalha, posto que de muita gemte ffose, que esperar de respõder e tamtas razões poderão não leixou elle de o poer em obra, emtemdemdoo por serviço de Deus e proll dos que eraõ em sua companha. Emtaõ se partiraõ todas, que não ficou nenhuma, e eles foram comvidados daly em diante de as mais trazer, nem foy que se dele partisse por tal azo.
Tanto assim foi que Nuno Álvares Pereira dizia por vezes que antes queria participar numa batalha – visto que muita gente contestara e tantas razões, não deixaram ele de apresentar, para justificar a medida tomada, por serviço a Deus e em prol das suas tropas. Mas partirão todas e os homens foram convidados para que dali em diante de não as trazer mais.
E como El Rey chegou de Chaves (a Castelãos), o Comde lhe dise aquelo que feito tinha e que o demovera ao fazer e que fose sua merçe de poer em tal defesa em seu arraial, ca doutra guisa não poderia elle bem mamter aquela ordenança se em sua oste não foise asy guoardada. Emtão ell Rey por defesa que nenhuma sua campanha não trouvesse molher comsyguo sob aquela pena que o Comde posera; e tãobem lhe fez o Comde que posese defesa sobre ho arreneguar e jogou dos dados. Arrenegar
E como D. João I chegou de Chaves (a Castelãos, ao arraial) o Conde disse-lhe o que tinha ordenado e o que o demovera a fazer, pedindo-lhe a sua (Del Rey) merçe em sua defesa, e do seu arraial, pois doutra maneira não poderia manter a ordem, se nas suas tropas (do D. João I) não fosse também seguida esta ordenação. Então o Rei D. João para defesa do Conde, ordenou às suas tropas também para não trazerem consigo mulheres, sob a pena que o Conde pusera. Dando assim total cobertura à determinação do Nuno Álvares Pereira.
E porem dizia ell Rey depois muitas vezes que todolos boõs custumes que em Portugal avia que o Comdestabre os posera todos; nem nos não lhe apropriamos cousa que de louvar seja que em ell mais perffeitamente não ouvese.
O Capitulo LXX, dá-nos conta da chegada das tropas de D. João I e de D. Nuno ao Vale da Vilariça a 11/12 de Maio de 1386, onde fazem alarde.
Texto gentilmente cedido por: Dr. Carlos Mendes